Um ano sem Silvio Santos: a última grande lição do mestre
Neste domingo (17/8), completa-se um ano da morte de Silvio Santos, um dos maiores apresentadores da televisão brasileira e a imagem maior do SBT. Mais do que o artista que ocupou seus principais horários, a emissora perdeu o profissional que entendia como poucos o desejo de seu telespectador. Além disso, dominava o jeito simples e certeiro de levar informação e entretenimento para um país que sempre gostou de assistir os grandes talentos.
Ao longo da sua história como empresário de comunicação, Silvio Santos ensinou que para crescer é necessário ousar e arriscar nas estratégias e ideias. Mas, também deixou bem claro que é fundamental encontrar o equilíbrio saudável entre investimento e retorno. Isso ficou muito claro em algumas de suas decisões. Ele reconhecia ser muito difícil concorrer com as novelas da Globo, que já possuía uma indústria estabelecida. Teledramaturgia exige altos investimentos e ele sempre atuou nessa área de uma forma mais econômica, bem pé no chão. E quando a Record iniciou o projeto A Caminho da Liderança chegou a afirmar que não entraria numa disputa a qualquer preço porque não tinha a entrada de dinheiro da igreja.
Silvio Santos sempre foi um gênio. Acertou muito. Mas também errou. E aqui ensinou a todos que é necessário reconhecer quando projetos precisam ser cancelados ou alterados. Além disso, apontou que todo profissional da TV precisa entender o público, ouvir seus desejos e, principalmente, oferecer o novo dentro da tradição que o telespectador aponta. Mas, será que seus discípulos aprenderam?
SBT sem Silvio Santos
Nos últimos anos, Silvio Santos já não estava mais no dia a dia do SBT. Deixou de apresentar seu programa e, à distância, orientava e cobrava a diretoria da emissora, uma equipe moldada por ele. É claro que a pandemia bagunçou todos os planos do comando da emissora e que a retoma de produção não foi tão simples. Pesquisas foram realizadas para entender os desejos do público do SBT depois de um período onde o streaming avançou e mudou o comportamento de quem consume audiovisual.
E tudo começou a mudar. Boa parte da diretoria que convivia com Silvio Santos já não faz mais parte do SBT e os poucos que ficaram evitam entrar em confronto com o atual comando. Nesse primeiro ano sem o apresentador, mesmo que sua família tente manter viva a memória e levar o legado do Senor Abravanel adiante, acompanhamos meses de extrema turbulência e de tentativas que não surtiram os resultados desejados. Esse período de transição começou antes da morte do empresário, mas sua ausência é cada dia mais sentida.
O problema não é somente o SBT perder audiência em muitas faixas de programação, mas deixar transparecer que a emissora sente a ausência de Silvio Santos. E não é sua falta no vídeo, porque de certa forma ele está ali, principalmente aos domingos. Mas, principalmente, nas decisões sobre a programação. Lá na Anhanguera todos sabem que a emissora ainda não conseguiu encontrar um novo caminho. Da primeira fase de novidades, somente o Sabadou com Virgínia permanece no ar. Chega Mais, Tá na Hora e É Tudo Nosso não resistiram. Agora, as apostas do SBT vão no sentido do resgate de tudo o que funcionou no passado. Casos de Família, Aqui Agora, Banheira do Gugu e Bom Dia & Cia são alguns exemplos do que voltou ao ar.
A alma de Silvio Santos
É verdade que algumas coisas funcionaram melhor. Porta da Esperança, Show de Calouros, Qual é a Música e Show do Milhão brilham no Programa Silvio Santos. Todas as atrações repaginadas no comando de Patrícia Abravanel, que soube pegar o legado do pai e trazê-lo para os dias atuais. Silvio Santos está ali, mas do jeito e na modernidade de sua filha. O telespectador não assiste apenas o resgate de atrações, mas algo que dá uma sensação de novo. E que fique claro: não é um cenário diferente que trará esse frescor que o público espera do que é tradicional.
Atualmente, lá na Anhanguera, muitos afirmam que Rinaldi Faria lembra muito Silvio Santos no comando da emissora. É fato que o executivo acumula poder na operação, conteúdo, programação e artístico. Portanto, está presente em todo o processo do que chega até o telespectador. Entretanto, com todo respeito à energia que tem colocado em seu trabalho, muito distante da genialidade de Silvio Santos. E talvez aqui venha a última grande lição do empresário de comunicação e maior apresentador da televisão brasileira.
Está na hora de delegar mais e concentrar menos, como Silvio Santos fez em seus últimos anos. Ele acompanhou atentamente o que cada um realizava dentro de suas responsabilidades. Além disso, apontou que é necessário criar novidades, mas dentro das características da emissora. Talvez ele não aprovasse a quantidade exagerada de telejornais policiais e populares, até mesmo aos sábados, quando brilhantemente iniciava a programação de fim de semana para o público se divertir e esquecer um pouco da rotina pesada.
Fonte :José Armando Vannucci
https://www.canaldovannucci.com.br
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